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sábado, 1 de agosto de 2015

Para Que Uniformes?

Lendo e refletindo me peguei pensando para que uniformes?
Fiz meu colegial todo usando uniformes, todos vestidos iguais.
Porém minha pergunta vai mais além, ela é ontológica. Por que queremos que todos sejam iguais? Uniformemente iguais.
Lendo alguns textos descobri que o Deus do Antigo Testamente (Elohim) é plural, que a vida é plural, nós somos plurais. Gerstenberger, professor de Antigo Testamento (AT), faz uma leitura plural, para ele não é Teologia do Antigo Testamento, mas, Teologias do AT. No Antigo Testamento encontramos varias leituras e percepções de Deus, todas provindas do âmbito da família, a estrutura social mais íntima. Ou seja, no nosso íntimo percebemos e sentimos Deus de maneiras diferentes. Experimentamos a vida de forma diferente. Então, para que padronizarmos os comportamentos uniformemente? 
Temos que encontrar a beleza da mesma forma que os artistas e poetas. Nenhum quadro de arte e nenhuma poesia é igual, mas todos refletem uma beleza genuinamente própria.
A beleza da vida está em sermos múltiplos e exclusivamente únicos. Cada um de nós é uma obra de arte de Deus, diferente uma da outra, mas com uma beleza genuinamente própria.

Quislom Albuquerque da Silva

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Sagrados Encontros

O mistério de Deus não se sente parado, é dinâmico, acontece em movimento. Assim como o amor, ninguém ama parado. É preciso caminhar, sair, estender os braços, mexer na conta bancária, sair da rotina, pois só de poesia não vive o amor.

Quem ama faz o amor germinar no útero do outro, engravida todos do mistério de Deus. Esquisitas são essas expressões de fé que desenham Deus longe da vida, do cotidiano, da rua, dos bares, da praia, da universidade, do teatro, e tantos outros ambientes de possibilidade de ser gente como Cristo foi.

A igreja que só reverencia Deus no templo “sagrado”, O profana no mundo. O amor faz o contrário, O sacraliza na rua, nos becos, nas pontes, nos encontros. Onde existe rosto, há possibilidade de experimentar o Mistério.

O segredo é arrancar a máscara, entregar-se para Deus e os seus rostos espalhados por todos os lugares. Tornar-se responsável por cada um que encontrar. Como disse o filósofo Emmanuel Levinas, “o eu diante do outro é infinitamente responsável”.


Reuel Albuquerque




quinta-feira, 30 de julho de 2015

Entrelace

A vida ganha novos contornos, novas linhas a partir da abertura ao outro. Abrir-se e lançar-se ao totalmente estranho possibilita interpelações absurdas a si mesmo, não é garantia de viver melhor, mas certeza de experimentar o conviver. Ganha crise e conflito, perde o roteiro pronto da natureza, portanto, torna-se humano.
Animais não podem amar, eles não erram, não vacilam, não esquecem do compromisso marcado, aliás, não marcam compromisso. Logo, impossibilitam o alvorecer do amor, pois onde não há espaço para concerto, não cabe o tom do amor. É um risco se entrelaçar no outro, mas é só no nó de amar que a vida ganha seu lugar.


Reuel Albuquerque


Bendita Imperfeição


A gente passa o tempo todo tentando ser feliz. Ficamos ansiosos para chegar o aniversário, a páscoa, o natal, o casamento, o happy hour, para que nesses momentos festivos, esqueçamos as nossas dores, angústias, ansiedades. O ser humano é incrível por sua capacidade de disfarçar. O animal, quando está sentido dores, não se esconde, na realidade todos percebem quando um simples cachorro está triste, seus olhos expõem logo a insatisfação do momento. O ser humano, porém, consegue interpretar uma pessoa feliz mesmo que sua alma esteja explodindo de dor. Sorrir com uma dor no peito parece sinal de força.
Estamos em uma cultura tão competitiva que, quanto mais uma pessoa se aperfeiçoa, ela é credibilizada no mercado de trabalho. Não se pode mostrar pontos fracos em uma entrevista de emprego, mas sim suas qualidades, seu alto nível de graduação. Todos querem ser super-humanos. Quanto mais a sociedade capitalista estiver em busca da perfeição, descobrirá o quanto é imperfeita. A busca pela perfeição é o caminho mais rápido para a solidão. Entende-se como perfeição, "o conjunto de todas as qualidades; a ausência de quaisquer defeitos". Assim, estar perto de uma pessoa que tem todas as qualidades, pessoa que não é capaz de sentir dor, seu corpo tem todo recurso anestésico, é na verdade estar só, não se tem abertura para o diálogo. Falar o quê com uma pessoa que já sabe tudo, falar de sua dor para alguém que nunca experimentou a dor?
Enquanto a sociedade tiver o padrão da perfeição do seres e das coisas como ideal, nunca terá espaço para brotar gente de fato. Se à criatura fosse dada ser tão perfeita como o Criador, seria igual a Ele, o que é inadmissível, pois, isso seria ultrapassar a própria humanidade.
O ser humano é o único animal em estado de aprendizagem. Se colocarmos um gato recém-nascido diante de uma vasilha de leite e uma caixa de areia, ele vai beber o leite, defecar na caixa. Mas se colocarmos um bebê, ele vai derramar o leite e comer a areia. É a imperfeição que nos coloca na condição de sermos eternos aprendizes.
Liev Tolstói diz: Pode-se explicar ao homem mais ignorante as coisas mais abstratas, se ele ainda não tem noção de alguma coisa sobre elas, mas não se pode explicar a coisa mais simples ao homem mais inteligente, se ele está firmemente convencido de saber muito bem o que lhe quer ensinar.”

Reuel Albuquerque