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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Bendita Imperfeição


A gente passa o tempo todo tentando ser feliz. Ficamos ansiosos para chegar o aniversário, a páscoa, o natal, o casamento, o happy hour, para que nesses momentos festivos, esqueçamos as nossas dores, angústias, ansiedades. O ser humano é incrível por sua capacidade de disfarçar. O animal, quando está sentido dores, não se esconde, na realidade todos percebem quando um simples cachorro está triste, seus olhos expõem logo a insatisfação do momento. O ser humano, porém, consegue interpretar uma pessoa feliz mesmo que sua alma esteja explodindo de dor. Sorrir com uma dor no peito parece sinal de força.
Estamos em uma cultura tão competitiva que, quanto mais uma pessoa se aperfeiçoa, ela é credibilizada no mercado de trabalho. Não se pode mostrar pontos fracos em uma entrevista de emprego, mas sim suas qualidades, seu alto nível de graduação. Todos querem ser super-humanos. Quanto mais a sociedade capitalista estiver em busca da perfeição, descobrirá o quanto é imperfeita. A busca pela perfeição é o caminho mais rápido para a solidão. Entende-se como perfeição, "o conjunto de todas as qualidades; a ausência de quaisquer defeitos". Assim, estar perto de uma pessoa que tem todas as qualidades, pessoa que não é capaz de sentir dor, seu corpo tem todo recurso anestésico, é na verdade estar só, não se tem abertura para o diálogo. Falar o quê com uma pessoa que já sabe tudo, falar de sua dor para alguém que nunca experimentou a dor?
Enquanto a sociedade tiver o padrão da perfeição do seres e das coisas como ideal, nunca terá espaço para brotar gente de fato. Se à criatura fosse dada ser tão perfeita como o Criador, seria igual a Ele, o que é inadmissível, pois, isso seria ultrapassar a própria humanidade.
O ser humano é o único animal em estado de aprendizagem. Se colocarmos um gato recém-nascido diante de uma vasilha de leite e uma caixa de areia, ele vai beber o leite, defecar na caixa. Mas se colocarmos um bebê, ele vai derramar o leite e comer a areia. É a imperfeição que nos coloca na condição de sermos eternos aprendizes.
Liev Tolstói diz: Pode-se explicar ao homem mais ignorante as coisas mais abstratas, se ele ainda não tem noção de alguma coisa sobre elas, mas não se pode explicar a coisa mais simples ao homem mais inteligente, se ele está firmemente convencido de saber muito bem o que lhe quer ensinar.”

Reuel Albuquerque

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